sexta-feira, 5 de agosto de 2011

PAI

Ele é um desconhecido para a maior parte dos comuns mortais. Mas uma significante fatia na vida de outros. E porquê? Se me perguntarem se é apenas mais um homem nego com todas as minhas certezas. Acomodado, desistente ou coisas que tais não fazem parte dele. É um Homem, com agá grande, com as suas próprias experiências, desejos, objectivos... E este seria mais um dos seus objectivos, escrever algo sobre ele próprio, em que reflectisse de tudo e de todos. Relembrando outros tempos: felizes e tristes, amargos e doces, de felicidade e de sofrimento.
Sempre me lembro dele a enfrentar todas as situações de frente e a não esconder-se atrás de um outro alguém. Simples e inteligente, busca a descoberta de culturas que a maior parte das pessoas nem dispensaria um segundo de atenção, ludibriadas pela ofuscante cultura de massas. Põe sempre a família à frente de qualquer outra coisa, rejeitando benefícios próprios, fazendo sacríficos. É, talvez, uma das coisas que mais lhe admiro.
Tem os seus defeitos, como qualquer outro ser humano, e talvez o seu temperamento seja o pior. Acho que sou capaz de ter herdado esse gene, em proporções gigantescas. Mas gosto de o ter em mim.
Orgulho-me se pensarem que somos parecidos. E adoro que diga que somos, e que todas as situações terríveis sirvam para nos fortalecer e definir a nossa personalidade, crescer até. Tornando-nos fortes, firmes, fixos.
Isto não é um elogio a um pai, é um elogio a um homem. A um lutador, a um não conformado, a um sonhador. Correndo o risco de, com tais palavras, me submeter a um tremendo cliché, era um pouco disto que eu gostaria de passar sobre ele.


Inês Ribeiro Simões

terça-feira, 3 de maio de 2011

it could be sweet

Ninguém entenderia do que somos feitos. Sonhos devassos que nos expõe a alma e chocam qualquer tipo de bom senso. Busca (eterna) de algo que já sabemos não encontrar ou sequer existir. Somos nós. Eternos imcompreendidos? Quem quer saber disso? Não há vergonhas por ser assim; pelo menos para mim, para ti e para nós.
O que me junta a ti, o que nos junta a nós, é o imcompreensível, o admirável, a atracção que nos cativa e motiva mutuamente. Tão mal e tão bem nos faz. Não consigo largá-la. E tu... tu não queres. Escravos um do outro? Dirias, imediatamente, que não. Apesar disso tenho as minha reservas quanto a tão delicada questão. Afinal de contas somos nós, não há regras. Mesmo que as houvesse seriam por nós quebradas. Gostamos do invulgar, do proibido, do que não está ao alcance. Partilhamos tanto com tanta diferença.
O abandono mútuo serviu para perceber que os nosso laços não são banais ou meras emoções simples, é tavez a invenção de algo novo - ao nosso estilo: complexo, profundo e estranho. É algo recorrente, desapropriado, reconfortante, secreto, compartilhado por duas pessoas tão diferentes quanto iguais.
Nós. Tanto nós.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Desassossego #1

"Repudiei sempre que me compreendessem. Ser compreendido é prostituir-se. Prefiro ser tomado como o que não sou, ignorado humanamente, com decência e naturalidade."

Bernardo Soares

quarta-feira, 30 de março de 2011

Devaneios de uma mente cansada

O amor, quando não moderado, é algo que não faz bem. Fruto do egoísmo e do egocentrismo pode despertar as mais penosas e tenebrosas emoções. O que outrora fazia tão bem, passa agora a crucificar e a martirizar a mais alegre criatura.
Quando não sentido em partes iguais é ingrato. O amor é ingrato. O amor é feio. Criamos barreiras inatingiveis, pensamos nós, para chegar apenas uma pessoa e as derrubar com o mínimo esforço.
Somos nós. Ingénuos seres humanos que ainda acreditam no amor, que o amor se concretizará e que ficará tudo bem. O final feliz não é algo que exista verdadeiramente. Mas a utopia faz-nos bem. Dá-nos força para algo mais.
O amor serve como inspiração. Como motivação para alcançar objectivos. De resto, só nos serve para desacreditarmos cada vez mais nas pessoas. Desilusões.

quinta-feira, 17 de março de 2011

"Porque é que fodemos o amor? Porque não resistimos. É do mal que nos faz. Parece estar mesmo a pedir. De resto, ninguém suporta viver um amor que não esteja pelo menos parcialmente fodido. Tem de haver escombros. Tem de haver esperança. Tem de haver progresso para pior e desejo de regresso a um tempo mais feliz. Um amor só um bocado fodido pode ser a coisa mais bonita deste mundo."

O amor é fodido por Miguel Esteves Cardoso

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

oh well



I'm leaving you for the last time, baby
you think you're loving but you don't love me
I've been confused, out of my mind lately
you think you're loving but I want to be free
baby you've hurt me

domingo, 13 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

I brace myself.


I'm going out, I'm gonna drink myself to death.
And in the crowd I see you with someone else. I brace myself cause I know it's going to hurt, but I like to think at least things can't get any worse.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Realizado para a disciplina de Técnicas de Expressão Escrita, a intenção era dar um aspecto de lentidão a todo o texto.


14 de Novembro de 2010. 5 horas e 17 minutos. Quase cai a noite aqui, em São Martinho do Porto. O inverno permite-lhe um encanto diferente. A baía está quase deserta, devido à intensidade do frio. Os últimos raios de sol começam, finalmente, a retirar-se. A areia pisada e repisada pelas pessoas começa agora a desvanecer-se pelo vento que se levanta e a leva. E só ouço o som do mar, e cheiro a maresia que quase me fazem entrar em estado de transe.


Acompanhando a linha do mar, vejo um casal de resistentes contra o frio. Um casal de velhos que passeia de mãos dadas. Sob o lusco-fusco, que faz tudo parecer mais bonito e ainda mais romântico, transparecem a maior cumplicidade do mundo. As rugas cravadas na pele já são bastantes, mas ele parece não se importar, e olha-a de uma forma bastante enternecedora, como se fosse a mulher mais bonita do mundo. Ele beija-a na mão e, depois, na testa. Ela dá-lhe um carinhoso e leve beijo nos lábios, enrugados e secos. Abraçam-se. E invejo-os. Só consigo pensar que os invejo como nunca invejei vivalma. O prazer de envelhecer ao lado de alguém, e continuar com a ternura do primeiro dia. E continuo a olhá-los enquanto se afastam, caminhando para fora da praia, sempre de mãos dadas. E não desvio o olhar, até que os perco de vista.

Entretanto, escurece e fico completamente sozinha na praia. Ao longe, vejo as luzes dos candeeiros de rua reflectidas na água gelada do mar. Silêncio. O silêncio que ultimamente tanto me fez e faz companhia, e que eu tanto, agora, aprecio. Sinto um arrepio que me percorre todo o corpo. Ajeito o casaco de forma a não deixar entrar o frio. Vislumbro o gorro e as luvas, cinzentas, na mala e coloco-os. Sinto-me mais quente, por fora, se bem que por dentro não sinta qualquer tipo de temperatura ou sentimento ou emoção.

Decido caminhar pela praia, longos passeios pela praia sempre foram uma óptima terapia, a meu ver. Procuro, durante largos minutos, o iPod, na mala. Acabo por encontrá-lo entre o pequeno espelho e os cigarros. Escolho rigorosamente a música, percorrendo a minha selecção de bandas e aspirantes a banda, procurando atentamente a banda sonora certa para este momento. Acho Bang Gang e carrego no play. Começa a etérea canção e sinto a melancolia a abraçar-me. Um sentimento. Finalmente. Finalmente sinto qualquer coisa. E agora medo, sinto medo, pois basta um simples sentimento para despoletar as milhentas emoções e sentimentos que tenho guardado em mim e reprimido a tanto custo. Tudo o que quis esconder pode agora emergir à superfície. E não há ninguém perto para me confortar. Mas será que quero? Não. É uma dor privada, solitária, não quero partilhá-la com ninguém. Quero que só a mim ela pertença. Quero ser egoísta e guardá-la toda comigo. Ninguém tem o direito de, sequer, a vislumbrar. E muito menos de virem com penas de mim, tudo menos penas.

Sinto o telemóvel no bolso, é a minha mãe a ligar-me. Desligo o iPod, tiro os phones e guardo tudo, desajeitadamente, na mala. Atendo o telefone. Passados alguns minutos desligo e esqueço a falsa preocupação maternal. Vejo as horas, ainda é cedo. Volto aos meus pensamentos e emaranho-me, de novo, naquilo que se vai tornar num misto de sentimentos e emoções. Continuo a caminhada.

À medida que vou andando pela praia vão-me passando recordações pela memória. Tantas, tão boas, tão quentes. Pego na carteira, vou aquele compartimento que só eu conheço, e tiro uma fotografia. Costumava adorar fotografias, mas agora penso que não passam de mais um mero objecto entre tantos outros sem utilidade. De que adiantam? São apenas um portal de teletransporte para uma dor constante, agonizante e impossível de suportar que, provavelmente, nunca vai chegar a desaparecer do mais ínfimo de mim. E olho-a. Olho-a como nunca olhei nada nem ninguém, inspecciono todos os pormenores, com toda atenção do mundo, para não perder o mais pequeno significado que ela já teve e que agora, mais do que nunca, tem. É engraçado, ou talvez não, como só percebemos o significado das coisas e das pessoas depois de as termos perdido e elas não mais poderem voltar atrás. Aliás, diria que é sobretudo ridículo. Sendo tal frase um conhecido cliché, a humanidade devia já estar minimamente preparada e atenta para reconhecer aquilo que realmente quer e vale a pena. Mas nunca é assim. Talvez não passemos só de uns quantos seres ignorantes por este mundo fora, ou talvez sejamos apenas a raça mais desatenta alguma vez criada.

Continuo a olhar a fotografia que, eventualmente, me transporta para uma realidade já ultrapassada. E percebo que já não consigo aguentar mais. Olho em meu redor, a tentar perceber se se encontra mais alguém aqui, mas não há ninguém. Ninguém para me ver, ninguém para me confortar, ninguém para me interromper. Então choro, as lágrimas começam a correr compulsivamente, enquanto me continuo a lembrar de ti e de tudo. E sinto mágoa, sinto angústia, sinto desconsolo, sinto a morte. Sinto a tua morte, sinto-a bem perto de mim. Só não te sinto a ti, que era o que mais queria.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Crónicas de uma caixa de supermercado

Este texto foi realizado no âmbito da discilpina de Redacção Jornalística, a intenção era fazer um artigo de Gonzo Journalism.


Ouve-se o toque das nove horas e a porta abre. Dezenas de clientes começam a entrar, empurrando-se, quase como um desafio para ver quem é o primeiro a entrar. Continuo a limpar a caixa registadora enquanto penso que mais parece uma corrida a mantimentos para a preparação a uma eventual catástrofe natural, quase como se a comida fosse acabar e eles tivessem que chegar primeiro que o seu próprio vizinho, ou o seu próprio irmão. Quase parece uma questão de vida ou morte. Mas a comida não vai acabar, não se vai dar nem um desastre nem qualquer tipo de acidente, trata-se apenas de um normal sábado num supermercado.

A crise, mal global que tanto nos tem afectado, ao que parece veio para ficar. Mas a questão das questões é: Serão todos afectados pela crise? E se sim, serão todos afectados de maneira igual? Conto com a experiência de trabalhar em supermercados para afirmar que já vi demasiadas coisas que me garantiram existir diversas diferenças financeiras e como essas diferenças levam as pessoas a actuar de certa forma em sociedade e em comunidade.

Entretanto, chega-me o primeiro cliente do dia à caixa enquanto os Escuteiros montam toda a parafernália explicativa sobre o Banco Alimentar. “Bom dia. É só o pãozinho e o queijo. Olhe que já estão cá a pedir outra vez, não podemos dar sempre, quem é que nos dá a nós? E sabemos lá nós se vai ser mesmo entregue a quem precisa!”. Vai, com certeza, ser a frase mais repetida do meu dia. A frase que me dá mais vómitos de tanto a ouvir, a frase que fica sempre bem e que desculpa o facto de, muitas vezes, não quererem simplesmente ajudar, e cumprir as suas funções sociais. Forço um sorriso, enquanto só me apetece dizer-lhe que pare de se desculpar à sociedade, e principalmente a mim, que sou apenas a porcaria de uma caixa de supermercado. “São 3,57€. Obrigada e tenha um bom dia!”, acabo por dizer enquanto faço o meu sorriso de “supermercado”, o mais cínico que pode existir.

Num instante começa a formar-se uma fila enorme, e penso que aqui não habita a crise. Pego no microfone para pedir ajuda a uma colega. Já ouço o reclamar de clientes que dizem que é ridículo estar apenas uma caixa aberta e que não estão para esperar tanto tempo. Os meus ouvidos estão já calejados de tanto descontentamento pré-fabricado e tenho resposta pronta caso algum idiota com a mania que é esperto resolva meter-se comigo. “Isto só se vê aqui, realmente, eu vou a outros supermercados e lá não é nada assim!”, reclama um. “Desculpe lá, mas eu vou a outros supermercados e também tenho que esperar. Caso não tenha reparado nós temos várias funções e como tal temos tarefas para além de estarmos sentadas nas caixas à espera de clientes de peito inchado e com a mania que são o Presidente da República.”, digo com a minha voz mais simpática e esboço o sorriso mais amarelo de sempre. Se há coisa que aprendi com este trabalho foi a usar e abusar do cinismo. O cliente fica pasmado e cala-se, corando, arrependido de ter aberto a boca. Quase que sou aplaudida por outros clientes, que me conhecem e dão razão.

Abrem-se mais duas caixas e os clientes dividem-se, então, pelas três caixas em funcionamento. Cada cliente, cada palavra de desagrado pelos preços, cada queixa sobre a qualidade de um produto duvidoso de marca branca. O que é certo é que levam os produtos na mesma, mesmo depois de milhentas reclamações. Há vários tipos de clientes: há os que têm poder económico e levam o que querem, quer precisem ou não, esbanjando dinheiro até mais não; há os que têm poder económico, mas são completos unhas-de-fome, e levam tudo do mais barato, e por vezes do mais reles que pode existir; há os sem poder económico que levam estritamente o necessário, cingindo-se à sua lista de compras; e há os sem poder económico, que vivem envergonhadíssimos por serem pobres, e preferem gastar uma imensidão de dinheiro em produtos ridiculamente caros a ter que admitir que têm problemas económicos e que quase precisam de ajuda.

Os Escuteiros vão falando às pessoas, muitas vezes em vão, e explicando em que consiste o Banco Alimentar, quase implorando por ajuda. Entretanto são entregues sacos próprios que se esperam que sejam retornados com a mínima ajuda possível. Apesar da crise são muitas as pessoas que aderem à campanha e que decidem ajudar. Também são muitas as que decidem não ligar importância alguma.

Levanto-me da caixa, depois do vendaval de clientes ter passado, e vou arrumar as dezenas de cestos e pequenos carrinhos deixados à balda pela loja. Dentro dos cestos, os clientes mais obtusos, vão deixando ficar os sacos do Banco Alimentar que, supostamente, aceitaram ao inicio, comprometendo-se a ajudar com um mero pacote de bolachas, massa ou farinha. Mete-me, sinceramente, nojo que pessoas adultas sejam incapazes de demonstrar a sua verdadeira posição em relação à ajuda social e sejam cínicas, em vez de admitirem desde logo que não querem participar na campanha.

As horas vão passando, e eu nem dou pela crise. O supermercado continua a encher. Cada cliente gasta em média quase 100€ nas compras que deveriam durar para todo o mês, mas cada semana vejo-os voltar e a gastar semelhante quantia. Continuo sem encontrar a crise. E penso que se podem gastar tamanha quantia por semana bem podiam também contribuir com um simples litro de leite, ou uma porcaria de um pacote de massa. Mas não, afinal de contas a sociedade é isto, é um conjunto de aparências ridículas, aparências que não se pretendem minimamente cumprir, é só “para inglês ver”.

19h30, a loja está quase a fechar, e vem aí uma enchente de clientes. Já é hábito, clientes com responsabilidades, trabalhos e filhos, que só podem vir no final do dia. E os outros, os detestáveis clientes que não fazem absolutamente nada e se lembram no fim do dia que têm que ir às compras, porque lhes falta uma porcaria de um pau de canela. Oh, como eu os adoro! Cambada de gente desocupada! “Boa noite. É só a canela?”, “É sim.” responde-me a mulher virando rapidamente a sua atenção para uma sua amiga que acabou de entrar. Começo a atender o próximo cliente e a mulher anterior nunca mais se despacha dali. “Olhe, desculpa, será que podia dar um jeitinho para este senhor?”. “Ai, desculpe! Estava tão distraída, nem me tinha apercebido.” Realmente não há melhor sítio para se conversar que a caixa de um supermercado! É precisa uma paciência do tamanho do mundo, para, educadamente, lidar com esta gente.

Oito horas. Finalmente fechou, penso logo! Mas ainda se encontram clientes na loja, e manda a boa educação que não os ponha na rua, ou seja, tenho que me submeter a que aquelas ignóbeis criaturas se decidam a despachar-se e a finalmente ir-se embora. Nova enchente nas caixas. Porque me parece outra regra de ouro dos supermercados, ou não há ninguém para atender ou os clientes decidem vir todos ao mesmo tempo pagar as suas compras, devia ser cientificamente provado. E continuo sem ver a crise.

Finalmente o fim do dia. Por hoje já não tenho que exibir mais o meu sorriso de supermercado. Então até amanhã à mesma hora. Sem a crise.